Na segunda-feira, a seis dias das eleições para a Presidência da República, Edgar Silva insistiu na questão da justiça social, um compromisso central da sua candidatura.
O dia terminou com um grandioso comício em Alpiarça, terra de resistência na luta antifascista. No Clube Desportivo «Águias» estiveram muitas centenas de homens e mulheres, de todas as idades, para manifestar o seu apoio à candidatura de Edgar Silva. «Edgar avança, com toda a confiança», gritaram, em uníssono, por diversas vezes, quando o candidato entrou na sala. Muitos fizeram questão de o cumprimentar, abraçando-o. Entre eles uma senhora madeirense, que Edgar Silva há anos ajudou quando integrou movimentos de apoio aos pobres e às crianças.
Passados estes momentos, de afecto, foram chamados para o «palco», por Mário Pereira, presidente da Câmara de Alpiarça e mandatário concelhio, Cláudia Varandas, da JCP, João Osório, do Executivo da DORSA do PCP, Manuela Cunha, dirigente nacional do Partido Ecologista «Os Verdes», António Filipe, deputado do PCP na Assembleia da República, Paulo Macedo, mandatário distrital, Octávio Augusto, da Comissão Política do Comité Central (CC) do PCP, e Manuela Pinto Ângelo, do Secretariado do CC do PCP.
No período das intervenções políticas, Cláudia Varandas começou por dizer que Edgar Silva «dá corpo à única candidatura que defende os valores de Abril e os direitos da juventude». «Dos sucessivos presidentes que tivemos após a revolução de 1974 nenhum conseguiu proteger os jovens e os trabalhadores, nenhum fincou o pé quando atacaram o direito à escola pública, à saúde e ao trabalho com direitos», acusou, assegurando que «no dia 24 de Janeiro, nós, os jovens, vamos votar em Edgar Silva, porque este é o candidato que leva a nossa luta mais longe».
Paulo Macedo defendeu, de igual forma, que «a candidatura de Edgar Silva é decisiva para garantir a consolidação das alterações positivas resultantes das eleições legislativas, mas também para o seu desenvolvimento e aprofundamento». «Esta é a candidatura dos que lutam e aspiram pela concretização, em Portugal, de uma democracia simultaneamente política, económica, social e cultural», sublinhou.
Valores de Abril
Antes da sua tão aguardada intervenção, Edgar Silva recebeu um ramo de cravos, rubros e esplendorosos, e um livro com a história da resistência antifascista do povo de Alpiarça. «É sempre gratificante receber flores, então cravos vermelhos mais enche o coração. Estou em crer que há de haver um dia – e poderá não estar longe – que teremos na Presidência da República um Presidente que não se envergonhe dos cravos vermelhos, de ostentar os valores de Abril que tanto custaram a conquistar», afirmou, acentuando que a sua candidatura tem uma marca distintiva, como uma impressão digital, «escrita a letras de fogo na palma da mão», com as palavras «liberdade, democracia e Abril».
Perante uma plateia viva e participante, Edgar Silva, num discurso inspirado, salientou que – depois de «um tempo para divulgar o nosso projecto, para esclarecer, animar e ganhar fôlego» – «agora é hora de mobilizar». «Temos de dar o nosso máximo até ao dia 24 de Janeiro, dos mais idosos aos mais novos, dos mais experientes na luta aos que só agora estão a despertar para essa generosidade, para essa militância», apelou.
Combater a pobreza
Num tema que percorreu todo o dia de campanha, o candidato assumiu o compromisso de estar «na linha da frente contra a pobreza, que faz com que tantas mulheres e homens em Portugal estejam submetidos a formas de escravidão que não podem continuar por muito mais tempo». «Nesta luta podem contar comigo», assegurou, informando que «um terço da população portuguesa vive na pobreza absoluta» e que muitos destes são trabalhadores e reformados.
Antes, em Queluz, citando um estudo da Oxfam, deu conta de que 62 multimilionários detêm mais riqueza do que a metade mais pobre da população do planeta e que a riqueza mundial tem vindo a concentrar-se nas mãos de uma elite que não supera um por cento de toda a população global.
Estribado naqueles dados, Edgar Silva defendeu, por isso, «que isto tem de levar uma volta», uma vez que o aumento das desigualdades em Portugal acompanha, de forma agravada, a tendência mundial, contrastante, sobretudo, com o progresso social e económico que em vários domínios se observou em resultado da revolução de Abril.
«O que está em causa no próximo dia 24 é criar condições para que esses valores de Abril» que «já irradiaram o nosso País», para que «esse tempo novo» passe de «palavra bonita» a «vida concreta sentida pelo povo e pelos trabalhadores», disse.
Justiça social
Em Alverca, durante contacto com os trabalhadores da OGMA-Indústria Aeronáutica de Portugal – empresa que tem em curso uma reestruturação que pode implicar o despedimento de 200 dos 1600 trabalhadores, segundo denunciou o sindicalista Hélio Martins – Edgar Silva assumiu o compromisso de construção da justiça social, uma componente central da sua candidatura.
«A construção da justiça social requer uma intervenção sobre aqueles que são os mecanismos geradores de tanta desigualdade, pobreza e miséria. Um dos pilares que precisa de ser alterado é o do trabalho, para que a equidade social possa acontecer na sociedade portuguesa», explicou, frisando que o Presidente da República, «não tendo poderes de governo, tem que agir para que na sociedade portuguesa não se fique, como tantas vezes aconteceu, pelo constatar de que existem milhões de pobres em Portugal». «O papel do Presidente da República é decisivo para apontar metas concretas para a erradicação da pobreza, no sentido de exigir que compromissos concretos sejam capazes de concretização, para que novas políticas garantam a inversão», acrescentou.
Acabar com a subserviência
Ainda em Alverca, interrogado sobre as exigências da troika, com 18 pontos de estrangulamento do investimento empresarial, o candidato sublinhou que «o interesse dos portugueses deve prevalecer». «Já é tempo de acabar com tamanha subserviência», afirmou, manifestando esperança que «este tempo seja um tempo novo, feito de uma outra atitude do Estado na defesa de Portugal, dos portugueses e das portuguesas».
«Mas estas medidas, com a flexibilização dos despedimentos, são motivos de veto?», voltaram a questionar os jornalistas que acompanham o candidato. «Tudo quanto procure vulnerabilizar vínculos de trabalho, tudo quanto atente contra direitos, liberdades e garantias dos trabalhadores e das trabalhadoras em Portugal não contará com o meu apoio e não hesitarei, se presidente for, a utilizar todos os poderes, inclusive o veto, para impedir que sejam roubados direitos a quem trabalha», acentuou.
No final de acção, uma trabalhadora da OGMA, madeirense, dirigiu-se ao candidato para lhe dizer que podia contar com o seu voto. «Espero que ganhe», afirmou, de sorriso rasgado, a sua conterrânea do Estreito de Câmara de Lobos. «Está na mão dos trabalhadores e do povo», respondeu-lhe Edgar Silva.
Defender a Constituição
Na Sociedade Filarmónica Humanitária, em Palmela, o candidato almoçou com mais de 200 trabalhadores das autarquias do concelho de Palmela, iniciativa que contou ainda com a participação de José Pereira e Margarida Botelho, respectivamente do Comité Central e da Comissão Política do PCP, Casimiro Amores e Silviana Silva, da comissão de apoio à candidatura, Álvaro Amaro, presidente da Câmara de Palmela, Fernando Bião, presidente da Junta de Freguesia de Palmela, e Ana Teresa Vicente, mandatária concelhia.
Nas mesas, para além de um fraterno convívio, esteve uma magnifica feijoada – feita por Cristina Rodrigues, engenheira civil e chefe da Divisão de Conservação e Logística, e Dolores Camolas, administrativa. Mas o prato forte foi quando Edgar Silva revelou haver «uma profunda reserva mental quando se fala da Constituição», apontando o dedo a Marcelo Rebelo de Sousa, candidato apoiado pelo PSD e CDS. «Quando se trata da questão laboral essa reserva mental transforma-se em ressentimento. Eles não vão descansar enquanto não mutilarem a Constituição naqueles que são os direitos fundamentais dos trabalhadores de Portugal», acusou.
Quase a terminar, apelou à «intervenção e contributo de cada um», sobretudo «no esclarecimento e mobilização», para que «esta candidatura, que é também do trabalho e dos trabalhadores, possa garantir, no dia 24 de Janeiro, que os valores de Abril possam ser reconquistados».
Terminou, exaltando: «Viva a democracia, a liberdade, o 25 de Abril, os trabalhadores e Portugal».